quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

SE NÃO FOI NA CHEGADA, NA SAIDA FOI CERTA...!!

Se não foi na chegada, na saída foi certa...Bom, a Europa está livre de mim. Escrevo agora do avião já em águas Brasileiras, mas a saída não podia ser muito fácil, e como não foi, pois além de muito cansativa, aconteceram fatos que deveriam de deixar mais envergonhado que estou na verdade. Em Davos, no dia em que comprei minha passagem de volta a Frankfurt, confesso que fiquei ansioso acima do normal, não conseguia dormir e fiquei com o coração acelerado o tempo todo. Na noite anterior também não dormi, fiquei assistindo jogos de inverno até as 4 da manhã quando o Urban voltou do Cassino, a idéia de estar voltando me inquietou muito. Na ultima manhã aproveitei para esquiar bastante de manhã, o esqui nórdico, que é mais fino e se usa nos trilhos na maior parte do tempo, quando fora, é preciso como que se patinar com os esquis, o mesmo movimento, mas que já estava indo bem nesse. Peguei outro caminho, passei por um vale e cheguei a um vilarejo muito lindo. Havia levado um Kiwi, que no caminho resolvi comer mas constatei que virou um purê no meu bolso. A volta foi muito louca, pois é uma grande descida e muito veloz, mas que tive bom desempenho, mesmo quando acabaram os trilhos. Tinha esquiado uns 15 km mais ou menos. No dia anterior fiz um percurso de quase 24 km...esse foi louco, pois não tinha muitos trilhos e muitos despenhadeiros, e no entanto me saí bem...parecia um mineiro no esqui, o que era melhor que uma avestruz epiléptica. Houve um momento na subida íngreme que notei a ponte onde deveria virar rumo a Davos, e em curva, o trilho acabava na descida íngreme e então vinha a curva e a ponte, já pensava, é aqui que eu caio, combinado, câmbio...mas na descida não foi bem assim. A velocidade era espantosa, as vezes os esquis tentavam sair dos trilhos e tinha que ter um pouco de maestria com as pernas e posição para ficar firme, e se vai agachado, com os bastões para trás e quase segurando os joelhos, pois se cair está bem perto do solo. Sabia que o final da trilha estava chegando e agachei ainda mais, sentia a neve gelada na bunda e a velocidade aumentado, quando termina o trilho e me assento...só que não parei!...Havia muito gelo no chão e continuei descendo de bunda, até divertido se não fosse a curva, o barranco e o rio me esperando. Comecei a tentar agarrar o gelo..dá pra imaginar a cena?..tudo escorregadio e eu escorregando rumo ao rio, batendo os braços para trás como se isso fosse um tipo de freio, sem pegar em nada, mas parei...bem na beiradinha...se soltasse um pum...eu caia no rio...mas me levantei com orgulho e como se fosse um novo esporte, já que estavam dois rapazes subindo em direção contrária. Continuei pela ponte e fui vitorioso para casa, onde fiz o almoço para mim e Urban e a noite fui esquiar novamente, mas o alpes, ou seja, do esqui largo, e foi muito bom. Fui para a parte iluminada, onde ficam as pessoas fazendo manobras ao lado da plataforma de snowboard. Geralmente o fazia no final da tarde na colina do lado contrário, onde não ficava ninguém e podia cair à vontade sem maiores constrangimentos, se bem que se cai muito mesmo nesse esporte e diversão que é esquiar. Mas estava com vontade de descer na plataforma iluminada então, era mais alta, e para minha surpresa, estava melhor que pensava. Não caí nenhuma só vez e ainda me dava ao luxo de algumas manobras, já que só conseguia virar com facilidade para a esquerda, e não sei o motivo. Acho que precisava de pesos para alinhar, ou bambolins como nas pipas, para virar para a direita. Pena que era minha ultima noite, pois percebi que poderia ter arriscado ir até os picos e descendo com cuidado, mas fica para o ano que vem. Após o banho e ensacar as duas camisetas para o lixo, já que não precisaria mais lavar como todas as noites pelo vinagre que cheirava de tanto suor e separar as roupas que o Urban me empresta para esquiar, fui arrumar a mochila, pois partiria de Davos às 04:51 da manhã. Na Suíça e Alemanha, você pode acertar o seu relógio com as saídas dos trens. São precisos. Havia comprado muito chocolate e minha mochila estava muito pesada, e ainda tinha a “Querosene”...minha bolsa Diesel que comprei na Oiapoque..falsa demais, mas muito útil... com o Laptop, carregador e maquina fotográfica. Fiz ainda dois sanduíches para a viagem. Liga-me o Tim de Frankfurt, me dizendo para chegar cedo pois iríamos assistir o carnaval de Main, uma ótima despedida regada a muita cerveja alemã. Chegaria às 11:53 e ele estaria me esperando na estação. Meu plano anterior era de ficar 3 horas em Zurick para chegar mais próximo do horário do Tim retornar do trabalho, mas ele não estava trabalhando nesse dia e a Lilí estava desfilando em Dusseldorf eu acho, mas o convite foi mais interessante. O Urban me emprestou 100 francos que pagaria à Neide, e fui ao cassino disposto a perder até 20 francos, pois queria trocar o dinheiro e curtir um cassino na Suíça. Muito legal muita musica e muitas fichas nas mesas. Fiquei vendo jogarem na roleta onde um senhor a principio ganhava boa vantagem sobre a banca. Assisti ainda pôquer, onde fiquei muito tentado, mas fui para as maquininhas onde se aposta uma moeda de 1 franco e tem 4 jogadas. Comecei perdendo uns 8 francos, mudei de maquina e cheguei a ganhar 20 de lucro, mas continuei até perder um pouco..9 francos, mas diverti um bocado e já eram meia-noite e estava na hora de ir. O Urban estava no Black Jack, mas não fiquei muito perto por achar melhor política. É claro que não dormi novamente, era a terceira noite. (nesse momento em que escrevo o avião ta parecendo trem fantasma de tanto que chacoalha..detesto turbulência..tô enjoando, pra que comi uma barra de chocolate depois do vinho..) Bom, de Davos fui para Langstrasse, onde peguei outro trem para Zurick e então outro trem para Frankfurt e lá estava o Tim me esperando, enorme como sempre. Fomos para sua casa e lá estavam seus pais, Hans e Renate e minhas malas. Até arrepiava quando olhava para elas, pesadas e muito grandes e uma com as rodas quebradas, devia parecer comigo em algumas situações. Decidimos que o melhor era o Tim ir para Main, de trem é claro, pois vão beber muito e não dirigem se beber, igual no Brasil...e eu iria com o Hans e a Renate para o aeroporto que era caminho para a cidade deles e arrumaria minhas malas e as deixava no guarda-volumes até a manhã seguinte, pois meu vôo era as 6 da manhã...horários ingratos, mas ao menos eu ia tomar umas e estou indo...O Tim estava preocupado pois umas das malas parecia ter mais de 40 quilos e o limite era 32. e ainda tinha a outra que devia estar com uns 30, a mochila com uns 15 e a querosene...Olhar pra elas já me dava uma preguiça...de lá pegaria o trem e me encontraria com o Tim na festa, pois fez um mapa com o local onde estaria. Fui então para o aeroporto de Frankfurt, grande e moderno e fui pesar as malas...ô preguiça. O Tim já havia dito que eu teria problemas mas que estava com sorte, pois iria ao Brasil em 3 semanas e poderia levar uns 7 quilos para mim...mas tava mais complicado. A maior estava com 38 kg, a outra, com 30..que bom, só 6 kg de problemas...mas peso a mochila e estava com 16kg, e poderia levar 6 como bagagem de mão, e a “querosene “ estava com 3,5 kg..o problema agora era de 20 quilos. Sem nenhum constrangimento, comecei a administrar as bagagens, tirando as facas e líquidos da mochila e pesando uma, duas vezes até darem duas de 32 e a mochila, a querosene e agora, mais uma sacola amarela cheia de livros e muito pesada. Fui guardar as malas no andar debaixo, mas ficaria muito caro. Descobri que poderia fazer o check-in as 18 horas, 16:30, valia a pena esperar e em seguida ir me encontrar com o Tim, pois não eram mais de 30 minutos. Deixei apenas a mochila, que seria minha bagagem de mão usando muita cara-de-pau e fui aguardar o momento certo. Fico assistindo uma tv, olhando um carro de formula-I exposto, andando com o carrinho com os dois trombolhos pelo enorme saguão. Quando estava faltando uns poucos minutos para as 18 hs, digo à moça que ia fazer o chek-in mas que a bagagem de mão estava guardada, ela disse que não podia. Puxa, ia pagar 3 euros por uma hora de descanso da mochila. Descer com o carrinho as escadas rolantes era assustador, pois ainda tinha a mochila, a sacola e a querosene. Deixei o carrinho encostado bem próximo onde iria começar a fila apenas com as duas malas e o casaco vermelho que ainda estava comigo e fui buscar a mochila. Tive uma idéia, pois havia 2 calças e o casaco de couro, o que ajudava em alguns quilos. Fui para o banheiro e vesti mais uma calça por cima e o casaco, pois jogaria o vermelho fora... estava então com minha cueca de Simpsons, uma ceroula térmica do Paquistão que comprei em Nova York, uma calça jeans e a calça verde cheia de bolsos. Quando volto, vejo que a escada rolante para subir ao andar superior estava com uma fita e um guarda dizendo que estava interditada (...ai, ai..,me dá um frio na barriga quando lembro... ) subo por outra escada e vejo que havia muitos guardas e uma fita isolando todo o saguão, e chegava um carrinho com um policial e um cachorro pastor alemão e um com roupas que pareciam de astronauta, e estavam bem visíveis já que o saguão é muito grande e o cordão isolava as pessoas das 4 direções com grande distância. O carrinho parou junto a uns boxes de lixo, na hora pensei que poderia haver algo perigoso ou inflamável lá. E demorava muito, não faziam nada com pressa e fiquei olhando. De repente, o “astronauta” pega uma placa e vai em direção ao carrinho das minhas malas e coloca a placa debaixo...aí minha ficha caiu,e eu quase caí junto. Disse ao guarda que as malas eram minhas. Disse em francês e ele ficou me olhando..arregalou os olhos e apontou para o carrinho e disse se eram minhas....credo, nem imaginam o que passei...olhei para as cordas e havia uma multidão de pessoas de todos os lados. E Todos começaram a me olhar, quando o guarda anuncia no rádio que o dono das malas estava ali e me pede o passaporte sem tirar os olhos de mim e com uma expressão que me lembrou na hora o episódio do brasileiro que levou um tiro no metrô na Inglaterra, logo foi chegando outros dois policiais e ficaram ao meu lado enquanto o que estava com meu passaporte, um guarda alto e loiro de bigode, com o rosto vermelho que eu torcia para ser de sol e não de raiva, se afastou até o balcão e soletrava meu nome repetidamente pelo rádio. Além da dor de barriga, me veio a lembrança de muitos filmes, com minha vida sendo esmiuçada pelo serviço secreto alemão, tentando descobrir se sou um terrorista, checando minha infância, adolescência, idade adulta...putz, não paguei o metrô, será que me filmaram?..e aquele episódio envolvendo xarope para tosse quando tinha 17 anos...e o carnaval na serra do cipó que vi marcianos brincando com balões depois de degustar uma infusão de cogumelo que não era nenhum xitake ou ximeji...minha mente parecia fazer barulho de disco rígido girando buscando minhas manotas...o negócio com a cabra do “seu Didico” no Eldorado quando criança..não tive nada com isso...pensei com alívio...estamos numa era estranha, não sei do que a ciência é capaz, a Bíblia diz que nos últimos dias a ciência e os prodígios que os homens conseguiriam, nos fariam desmaiar, e minhas pernas já anunciavam o apocalipse, querendo arriar, descia um fio de suor pela minha face e os dois guardas com a mão na cintura sem tirar os olhos de mim. O que mais me agoniava é que eles não pararam com a ação, continuava o astronauta passando um aparelho que parecia uma torradeira na ponta de um taco de beisebol, e então me lembro...o Chiffon....putz, vou levar um tiro com minha sorte. Caso não saibam, chiffon é um tubo de inox, como uma garrafa térmica, com uma tampa que se coloca gás e o liquido, geralmente acrescido de creme de leite, se transforma em espuma, como um chantilly de tomate seco, por exemplo, sem a tampa, fica parecendo assim, com uma bomba entende?...e estava sem a tampa, que embrulhei separado. Eu o peguei emprestado com o gaúcho no restaurante em Madrid, pois estava jogado e usaria no jantar que iria preparar de despedida em Frankfurt, mas as coisas não correram como pensei...mesmo. De repente, chega outro policial, e pelo uniforme diferente e os cordões, acho que era o chefe, e me mandou abrir as malas...e devagar...fui andando como ovelha pro matadouro...queria pegar a maquina e tirar uma foto das pessoas acompanhando atrás das fitas, as expressões de seus rostos, uma multidão de todos os lados, mas isso certamente me daria no mínimo um tiro na bunda, e fui andando calmamente, tirei a primeira mala do carrinho, e assim que coloquei o segredo no cadeado, 777..que não dá sorte nenhuma, me mandaram afastar, e veio o policial com o cachorro, e o colocou para farejar minha mala, com o policial revirando com um bastão, e o povo olhando, pensei na hora, se o cachorro gostar de chocolate eu estou ferrado...me mandam fechar e abrir a outra, a mesma coisa e o mesmo medo do cachorro gostar dos chocolates ou de flor de sal...vai que eles acham que é cocaína granulada?..estava em um saquinho sem rótulo que era mais barato na França, na I’lle de Ré...duvido que me dariam um filé de canard pra mostrar que era pra outros fins, e lembrava do brasileiro que levou um tiro...olharam minha mala e um policial comentou algo, acho que das facas ou da bagunça, ou do enorme pote de Mostarda Dijon, ou das cascas de escargots que embrulhei nas meias para não quebrar, mandaram fechar, veio então o guarda que estava com meu passaporte e me diz: Its not good! Its not good!....pronto! Minha mente trabalhava como um liquidificador, pela velocidade e pela bagunça...acho que vou preso, perco o vôo, meu visto vence no dia posterior, me torno então ilegal, fico preso agora pela imigração e sou deportado pra penitenciária de Neves..ai que bagunça, eles podiam me dar um chute na bunda que me mandasse pro Brasil que eu estaria satisfeito..o guarda comunica algo pelo rádio e tiram as faixas e é anunciado no rádio que a bomba era um chiffon ou que estava liberado, mas pra correrem agora pois estava o check-in de toda ala B, inclusive todos os balcões da Lufthansa estavam atrasados em 40 minutos...e via a turba vindo, pensei no linchamento, e quando estavam bem perto e todos me olhando, inclusive 4 policiais, um cachorro e um astronauta, disse em alto e bom tom: “Pardon...monseiour e madames..desolée...J’ai suis desolée”...o primeiro casal sorriu para mim e respondeu “pás de probleme..c’est pás grave”...veio um japonês e tirou uma foto minha, me lembrei então de alguns flash enquanto abria as malas...talvez eu saia no jornal...o policial de bigode conversou com os demais, me aproximei e disse um “desolée” com a carinha do esquilinho da Era do Gelo no final, quando racha a ilha...ele me entregou o passaporte e disse ok... e se virou, nem falou pra mim um nunca mais volte nesse aeroporto, ou na Alemanha, ou na Europa, ou não atravesse o atlântico ou vai ver...ou não saia de seu bairro por uns tempos... ou coisa parecida. Peguei o carrinho e fui lá para fora, andar um pouco longe da multidão, quando então me lembro...a Querosene!...putz..tirei o laptop dela e passei para a mochila e a deixei dentro do banheiro com o adaptador de tomadas que comprei em Dublin,...pronto, aposto que daqui a pouco está o esquadrão, o astronauta, o cachorro no banheiro, eles passando o filme, e na minha sorte, no telão do aeroporto, me mostrando andando pro banheiro com a bolsa de exército, verde, e saindo sem...e tiro na bunda e multidão revoltada, guilhotina, desolée....tinha que correr lá, fui tentar descer com o carrinho, mas musei de idéia, não podia deixar o carrinho e correr lá, pois poderia acontecer tudo de novo e aposto como mandariam ao menos o Totó alemão me morder...rodei o aeroporto atrás de um elevador, mas o carrinho não entrou...paro por um instante e percebo que estou suando frio, dou mais uma volta e tento descer com o carrinho, mas é claro, minha mochila voou longe, como lançada por uma catapulta, e por pouco não acerta uma moça, que ainda foi gentil e a tirou do final da escada rolante, ou seria uma bagunça quando o carrinho chegasse e empilhasse e todas as pessoas atrás começassem a empilhar, me lembrei de Monty Pytton, desenho animado, Jerry Lewis...mas o carrinho passou, joguei a mochila em cima das malas, com a sensação que todo o aeroporto já me conhecia, e rumei para o banheiro, que demorei muito pra encontrar. Chegando, um carrinho branco na porta e um guarda entrando..pronto...de novo!...esperei do lado de fora..pensei em fugir dali e negar até debaixo d’agua que a bolsa fosse minha, talvez um sósia, ou um complô...sei lá..sai o guarda, mas escuto vozes, o banheiro tinha duas partes e era grande, na primeira as pias e espelho e os vasos de urinar, e passando por uma porta, uma bateria de casinhas com as privadas, havia usado a ultima, tento entrar com o carrinho mas a mala não deixa, pensei em largar o carrinho e correr mas lembrei de tudo que aconteceu no andar de cima...arrisco e entro rápido e vejo que tinha alguém dentro, volto correndo pro carrinho e espero. Sai um rapaz com uma mochila e um funcionário com uns sacos plásticos e os coloca no carrinho...entro novamente e a ultima casinha tava aberta, e percebo que a querosene não estava mais lá, e como na saída não estava a policia nem o cachorro, acho que passou batido, só tinha agora que jogar o blusão vermelho fora, e fui procurar uma lixeira grande, sem sucesso algum. Vou para fora do aeroporto, e nada, ando um pouco e o lanço em cima de uma bateria de lixeiras, pois são para plásticos, papéis, metais, resíduos e não tinha uma pra blusão vermelho..ficou por cima do recipiente para papeis...e voltei. Resolvi fazer o check-in. Fui para a fila e achando que todos os olhares eram para mim, mas já nem importava. O rapaz que me atendeu, foi muito sorridente e simpático e me diz que não precisava apresentar a mochila se era bagagem de mão, me lembrei da moça que disse o contrário e se a visse talvez a esgoelasse, a atendente parecia estar em experiência, com uma outra ao lado dando as instruções. Coloco a primeira mala e dá 33kg...a segunda, 34kg..não entendi, acho que foi a baba do cachorro...total na balança 67kg. Antes que me falassem algo, pergunto se as malas iriam direto para São Paulo ou se teria que pegá-las em Lisboa. Ela pede um instante e começam a conversar, apertam um monte de teclas e parece haver algum problema, talvez no peso ou talvez estivesse fichado no computador e me dissessem que teria de voltar a nado..pega o telefone e fala muito em alemão com alguém, fico esperando, desliga e tecla algo, me diz que estava tendo problemas em Lisboa...pronto, devo estar fichado lá também, pensei, liga novamente, aperta outra tecla e sai duas fitas, colocam nas malas e me dizem algo que não entendi, mas que as malas eu pegaria em São Paulo, e com a bagunça, nem falaram dos 3kg de excesso. Peguei a mochila e agora a sacola amarela com os livros e o laptop, mostrando como se fossem leves, mas estavam quase cortando meus dedos pelo peso. Resolvo ligar para o Tim e meu cartão da alemanha estava sem crédito, coloco uma moeda de 1 euro e cai na caixa postal e lá se vai um euro. Vontade de tomar uma pinga, pensei. Andei um pouco, e arrisquei novamente com outra moeda, e o Tim atende do outro lado, e pela voz, estava semi-bêbado...falo brevemente que tive alguns “probleminhas” e que nos encontraríamos na casa dele, ele já estava no trem, voltando para Frankfurt, ele responde, “sabia que teria problemas com o peso delas”..nem imagina. Uns 40 minutos estava chegando em sua casa, e após um abraço, peguei uma cerveja na geladeira e a virei quase de uma vez. O Tim tava bem alegre, disse que ia deitar, nos despedimos, falei por alto o que aconteceu, depois explico melhor, tava com preguiça de lembrar, tomei banho e fui me deitar...dormir...nada de novo, mas tava muito cansado e dava boas cochiladas, pois decidi não confiar no despertador do celular que levei e acordava toda hora..até as 4hs quando decido partir. E fora que quase peguei o metrô errado, foi tudo certo até chegar no check-in, a mochila pesava muito e a sacola quase decepava meus dedos. Os caras nada gentis, me mandam passar pelo raio-X, e me dizem que havia líquidos e que teria que comprar uma sacola plástica e os embalar, era um creme para cabelo, pasta de dente, desodorante, hipoglós..peguei tudo e joguei no lixo e me liberaram para entrar. Chego então a Lisboa, e se acham que acabou...quem dera!
O aeroporto de Lisboa é grande e bonito, tinha diferença de fuso horário de uma hora pelo que entendi no avião,e acertei o relógio. Estava com tempo de uma hora para apresentar, sigo até o painel e procuro o vôo para Guarulhos, 137 às 09:15...vejo que era no portão 02, mas o vôo marcava 139, e segui assim mesmo. Ajeito-me nos bancos do portão 02 e de repente escuto no alto falante algo que tinha o meu sobrenome, mas pensei, Braga aqui deve ser como Silva no Brasil..passa uns minutos e repete novamente, e então escuto perfeitamente: “Passageiro Adriano Braga, favor se apresentar ao portão 25 para embarque imediato, passageiro Adriano Braga”...putz, sou eu...mas tinha muito tempo, olho o relógio e o meu estava atrasado uma hora, e o portão 25 ficava muito longe, e saio correndo pelo aeroporto com a mochila e a sacola amarela cortando minha mão, como um desvairado, sem a mínima classe e avisto a moça, que me diz, “achamos o senhor heim?..mas o senhor vai ter que esperar o ônibus voltar pois já estão todos embarcados!”...chega o ônibus e eu sem entender nada, pois no horário do vôo para Guarulhos era outro, e o fuso?.estava era sem um parafuso na cabeça,e esse ônibus que não vai logo?...e demorou, e muito. Pelo relógio, o avião partiu fazia 20 minutos quando o motorista ligou o ônibus que nos conduzia a aeronave, quando pergunto ao senhor ao lado se estava indo para São Paulo, e responde: “Não, pra cidade do Porto!”..pergunto outro e outro e respondem a mesma coisa...vontade de ir no banheiro de novo...e tomar uma pinga!...além de ter perdido o vôo, acho que vou parar em outra cidade, ao menos estou livre das malas...pensei... um dia elas aparecem! Quando chego no avião é que descubro que não fui o único a atrasar o vôo para Porto, e que é de lá que sairia o vôo 137. Daí foi fácil, pois segui os passageiros e uma senhora portuguesa puxou conversa, e durante meia hora de fila de espera, trocamos algumas receitas. Muito simpática e só falava de comida, o que me deixou mais à vontade. Embarquei em um avião mais espaçoso e não estava cheio, mudei de lado por causa do sol e depois por não estar funcionando a tela que fica no banco, pois queria assistir filmes, quando a aeromoça me diz em tom nada educado: “Poderia se assentar?”..respondi, “Não...essa merda não funciona e vou procurar uma que funcione!”..e tirei bons quilos do ombro ao continuar conferindo qual controle remoto funcionava sabendo que a aeromoça estava com os braços na cintura me esperando assentar. Voltei para o outro lado do avião e me assentei em uma tv que funcionava, mas o fone estava um estragado...c’est lá merde!..quando passou um comissário, pedi outro fone, e esse, muito simpático atendeu...assisti Litlle Miss Sunshine..muito bom filme, e um pedaço do péssimo Maria Antonieta, que já havia assistido em Madrid, e assisti novamente L M Sunshine, pois havia perdido o inicio e acabei revendo todo o filme.
Durante o vôo, havia um Paranaense que não parava de falar, e alto, e com muitas pessoas. Vi na expressão de uma moça que estava doida pra ficar livre dele, quando mudou de lugar e ficou na fileira central ao meu lado, e quando tirou o sapato e colocou os pés ao meu lado..sem exagero, quase vomitei...acho que usava sardinha como palmilha...que horror...peguei minha coberta que ainda estava no saquinho e joguei sobre seus pés, acho que assustou e olhou para mim, que só levantei as sobrancelhas, ele deitou e foi dormir e o cheiro diminuiu.
....CONTINUA......

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