quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

SE NÃO FOI NA CHEGADA, NA SAIDA FOI CERTA...!!

Se não foi na chegada, na saída foi certa...Bom, a Europa está livre de mim. Escrevo agora do avião já em águas Brasileiras, mas a saída não podia ser muito fácil, e como não foi, pois além de muito cansativa, aconteceram fatos que deveriam de deixar mais envergonhado que estou na verdade. Em Davos, no dia em que comprei minha passagem de volta a Frankfurt, confesso que fiquei ansioso acima do normal, não conseguia dormir e fiquei com o coração acelerado o tempo todo. Na noite anterior também não dormi, fiquei assistindo jogos de inverno até as 4 da manhã quando o Urban voltou do Cassino, a idéia de estar voltando me inquietou muito. Na ultima manhã aproveitei para esquiar bastante de manhã, o esqui nórdico, que é mais fino e se usa nos trilhos na maior parte do tempo, quando fora, é preciso como que se patinar com os esquis, o mesmo movimento, mas que já estava indo bem nesse. Peguei outro caminho, passei por um vale e cheguei a um vilarejo muito lindo. Havia levado um Kiwi, que no caminho resolvi comer mas constatei que virou um purê no meu bolso. A volta foi muito louca, pois é uma grande descida e muito veloz, mas que tive bom desempenho, mesmo quando acabaram os trilhos. Tinha esquiado uns 15 km mais ou menos. No dia anterior fiz um percurso de quase 24 km...esse foi louco, pois não tinha muitos trilhos e muitos despenhadeiros, e no entanto me saí bem...parecia um mineiro no esqui, o que era melhor que uma avestruz epiléptica. Houve um momento na subida íngreme que notei a ponte onde deveria virar rumo a Davos, e em curva, o trilho acabava na descida íngreme e então vinha a curva e a ponte, já pensava, é aqui que eu caio, combinado, câmbio...mas na descida não foi bem assim. A velocidade era espantosa, as vezes os esquis tentavam sair dos trilhos e tinha que ter um pouco de maestria com as pernas e posição para ficar firme, e se vai agachado, com os bastões para trás e quase segurando os joelhos, pois se cair está bem perto do solo. Sabia que o final da trilha estava chegando e agachei ainda mais, sentia a neve gelada na bunda e a velocidade aumentado, quando termina o trilho e me assento...só que não parei!...Havia muito gelo no chão e continuei descendo de bunda, até divertido se não fosse a curva, o barranco e o rio me esperando. Comecei a tentar agarrar o gelo..dá pra imaginar a cena?..tudo escorregadio e eu escorregando rumo ao rio, batendo os braços para trás como se isso fosse um tipo de freio, sem pegar em nada, mas parei...bem na beiradinha...se soltasse um pum...eu caia no rio...mas me levantei com orgulho e como se fosse um novo esporte, já que estavam dois rapazes subindo em direção contrária. Continuei pela ponte e fui vitorioso para casa, onde fiz o almoço para mim e Urban e a noite fui esquiar novamente, mas o alpes, ou seja, do esqui largo, e foi muito bom. Fui para a parte iluminada, onde ficam as pessoas fazendo manobras ao lado da plataforma de snowboard. Geralmente o fazia no final da tarde na colina do lado contrário, onde não ficava ninguém e podia cair à vontade sem maiores constrangimentos, se bem que se cai muito mesmo nesse esporte e diversão que é esquiar. Mas estava com vontade de descer na plataforma iluminada então, era mais alta, e para minha surpresa, estava melhor que pensava. Não caí nenhuma só vez e ainda me dava ao luxo de algumas manobras, já que só conseguia virar com facilidade para a esquerda, e não sei o motivo. Acho que precisava de pesos para alinhar, ou bambolins como nas pipas, para virar para a direita. Pena que era minha ultima noite, pois percebi que poderia ter arriscado ir até os picos e descendo com cuidado, mas fica para o ano que vem. Após o banho e ensacar as duas camisetas para o lixo, já que não precisaria mais lavar como todas as noites pelo vinagre que cheirava de tanto suor e separar as roupas que o Urban me empresta para esquiar, fui arrumar a mochila, pois partiria de Davos às 04:51 da manhã. Na Suíça e Alemanha, você pode acertar o seu relógio com as saídas dos trens. São precisos. Havia comprado muito chocolate e minha mochila estava muito pesada, e ainda tinha a “Querosene”...minha bolsa Diesel que comprei na Oiapoque..falsa demais, mas muito útil... com o Laptop, carregador e maquina fotográfica. Fiz ainda dois sanduíches para a viagem. Liga-me o Tim de Frankfurt, me dizendo para chegar cedo pois iríamos assistir o carnaval de Main, uma ótima despedida regada a muita cerveja alemã. Chegaria às 11:53 e ele estaria me esperando na estação. Meu plano anterior era de ficar 3 horas em Zurick para chegar mais próximo do horário do Tim retornar do trabalho, mas ele não estava trabalhando nesse dia e a Lilí estava desfilando em Dusseldorf eu acho, mas o convite foi mais interessante. O Urban me emprestou 100 francos que pagaria à Neide, e fui ao cassino disposto a perder até 20 francos, pois queria trocar o dinheiro e curtir um cassino na Suíça. Muito legal muita musica e muitas fichas nas mesas. Fiquei vendo jogarem na roleta onde um senhor a principio ganhava boa vantagem sobre a banca. Assisti ainda pôquer, onde fiquei muito tentado, mas fui para as maquininhas onde se aposta uma moeda de 1 franco e tem 4 jogadas. Comecei perdendo uns 8 francos, mudei de maquina e cheguei a ganhar 20 de lucro, mas continuei até perder um pouco..9 francos, mas diverti um bocado e já eram meia-noite e estava na hora de ir. O Urban estava no Black Jack, mas não fiquei muito perto por achar melhor política. É claro que não dormi novamente, era a terceira noite. (nesse momento em que escrevo o avião ta parecendo trem fantasma de tanto que chacoalha..detesto turbulência..tô enjoando, pra que comi uma barra de chocolate depois do vinho..) Bom, de Davos fui para Langstrasse, onde peguei outro trem para Zurick e então outro trem para Frankfurt e lá estava o Tim me esperando, enorme como sempre. Fomos para sua casa e lá estavam seus pais, Hans e Renate e minhas malas. Até arrepiava quando olhava para elas, pesadas e muito grandes e uma com as rodas quebradas, devia parecer comigo em algumas situações. Decidimos que o melhor era o Tim ir para Main, de trem é claro, pois vão beber muito e não dirigem se beber, igual no Brasil...e eu iria com o Hans e a Renate para o aeroporto que era caminho para a cidade deles e arrumaria minhas malas e as deixava no guarda-volumes até a manhã seguinte, pois meu vôo era as 6 da manhã...horários ingratos, mas ao menos eu ia tomar umas e estou indo...O Tim estava preocupado pois umas das malas parecia ter mais de 40 quilos e o limite era 32. e ainda tinha a outra que devia estar com uns 30, a mochila com uns 15 e a querosene...Olhar pra elas já me dava uma preguiça...de lá pegaria o trem e me encontraria com o Tim na festa, pois fez um mapa com o local onde estaria. Fui então para o aeroporto de Frankfurt, grande e moderno e fui pesar as malas...ô preguiça. O Tim já havia dito que eu teria problemas mas que estava com sorte, pois iria ao Brasil em 3 semanas e poderia levar uns 7 quilos para mim...mas tava mais complicado. A maior estava com 38 kg, a outra, com 30..que bom, só 6 kg de problemas...mas peso a mochila e estava com 16kg, e poderia levar 6 como bagagem de mão, e a “querosene “ estava com 3,5 kg..o problema agora era de 20 quilos. Sem nenhum constrangimento, comecei a administrar as bagagens, tirando as facas e líquidos da mochila e pesando uma, duas vezes até darem duas de 32 e a mochila, a querosene e agora, mais uma sacola amarela cheia de livros e muito pesada. Fui guardar as malas no andar debaixo, mas ficaria muito caro. Descobri que poderia fazer o check-in as 18 horas, 16:30, valia a pena esperar e em seguida ir me encontrar com o Tim, pois não eram mais de 30 minutos. Deixei apenas a mochila, que seria minha bagagem de mão usando muita cara-de-pau e fui aguardar o momento certo. Fico assistindo uma tv, olhando um carro de formula-I exposto, andando com o carrinho com os dois trombolhos pelo enorme saguão. Quando estava faltando uns poucos minutos para as 18 hs, digo à moça que ia fazer o chek-in mas que a bagagem de mão estava guardada, ela disse que não podia. Puxa, ia pagar 3 euros por uma hora de descanso da mochila. Descer com o carrinho as escadas rolantes era assustador, pois ainda tinha a mochila, a sacola e a querosene. Deixei o carrinho encostado bem próximo onde iria começar a fila apenas com as duas malas e o casaco vermelho que ainda estava comigo e fui buscar a mochila. Tive uma idéia, pois havia 2 calças e o casaco de couro, o que ajudava em alguns quilos. Fui para o banheiro e vesti mais uma calça por cima e o casaco, pois jogaria o vermelho fora... estava então com minha cueca de Simpsons, uma ceroula térmica do Paquistão que comprei em Nova York, uma calça jeans e a calça verde cheia de bolsos. Quando volto, vejo que a escada rolante para subir ao andar superior estava com uma fita e um guarda dizendo que estava interditada (...ai, ai..,me dá um frio na barriga quando lembro... ) subo por outra escada e vejo que havia muitos guardas e uma fita isolando todo o saguão, e chegava um carrinho com um policial e um cachorro pastor alemão e um com roupas que pareciam de astronauta, e estavam bem visíveis já que o saguão é muito grande e o cordão isolava as pessoas das 4 direções com grande distância. O carrinho parou junto a uns boxes de lixo, na hora pensei que poderia haver algo perigoso ou inflamável lá. E demorava muito, não faziam nada com pressa e fiquei olhando. De repente, o “astronauta” pega uma placa e vai em direção ao carrinho das minhas malas e coloca a placa debaixo...aí minha ficha caiu,e eu quase caí junto. Disse ao guarda que as malas eram minhas. Disse em francês e ele ficou me olhando..arregalou os olhos e apontou para o carrinho e disse se eram minhas....credo, nem imaginam o que passei...olhei para as cordas e havia uma multidão de pessoas de todos os lados. E Todos começaram a me olhar, quando o guarda anuncia no rádio que o dono das malas estava ali e me pede o passaporte sem tirar os olhos de mim e com uma expressão que me lembrou na hora o episódio do brasileiro que levou um tiro no metrô na Inglaterra, logo foi chegando outros dois policiais e ficaram ao meu lado enquanto o que estava com meu passaporte, um guarda alto e loiro de bigode, com o rosto vermelho que eu torcia para ser de sol e não de raiva, se afastou até o balcão e soletrava meu nome repetidamente pelo rádio. Além da dor de barriga, me veio a lembrança de muitos filmes, com minha vida sendo esmiuçada pelo serviço secreto alemão, tentando descobrir se sou um terrorista, checando minha infância, adolescência, idade adulta...putz, não paguei o metrô, será que me filmaram?..e aquele episódio envolvendo xarope para tosse quando tinha 17 anos...e o carnaval na serra do cipó que vi marcianos brincando com balões depois de degustar uma infusão de cogumelo que não era nenhum xitake ou ximeji...minha mente parecia fazer barulho de disco rígido girando buscando minhas manotas...o negócio com a cabra do “seu Didico” no Eldorado quando criança..não tive nada com isso...pensei com alívio...estamos numa era estranha, não sei do que a ciência é capaz, a Bíblia diz que nos últimos dias a ciência e os prodígios que os homens conseguiriam, nos fariam desmaiar, e minhas pernas já anunciavam o apocalipse, querendo arriar, descia um fio de suor pela minha face e os dois guardas com a mão na cintura sem tirar os olhos de mim. O que mais me agoniava é que eles não pararam com a ação, continuava o astronauta passando um aparelho que parecia uma torradeira na ponta de um taco de beisebol, e então me lembro...o Chiffon....putz, vou levar um tiro com minha sorte. Caso não saibam, chiffon é um tubo de inox, como uma garrafa térmica, com uma tampa que se coloca gás e o liquido, geralmente acrescido de creme de leite, se transforma em espuma, como um chantilly de tomate seco, por exemplo, sem a tampa, fica parecendo assim, com uma bomba entende?...e estava sem a tampa, que embrulhei separado. Eu o peguei emprestado com o gaúcho no restaurante em Madrid, pois estava jogado e usaria no jantar que iria preparar de despedida em Frankfurt, mas as coisas não correram como pensei...mesmo. De repente, chega outro policial, e pelo uniforme diferente e os cordões, acho que era o chefe, e me mandou abrir as malas...e devagar...fui andando como ovelha pro matadouro...queria pegar a maquina e tirar uma foto das pessoas acompanhando atrás das fitas, as expressões de seus rostos, uma multidão de todos os lados, mas isso certamente me daria no mínimo um tiro na bunda, e fui andando calmamente, tirei a primeira mala do carrinho, e assim que coloquei o segredo no cadeado, 777..que não dá sorte nenhuma, me mandaram afastar, e veio o policial com o cachorro, e o colocou para farejar minha mala, com o policial revirando com um bastão, e o povo olhando, pensei na hora, se o cachorro gostar de chocolate eu estou ferrado...me mandam fechar e abrir a outra, a mesma coisa e o mesmo medo do cachorro gostar dos chocolates ou de flor de sal...vai que eles acham que é cocaína granulada?..estava em um saquinho sem rótulo que era mais barato na França, na I’lle de Ré...duvido que me dariam um filé de canard pra mostrar que era pra outros fins, e lembrava do brasileiro que levou um tiro...olharam minha mala e um policial comentou algo, acho que das facas ou da bagunça, ou do enorme pote de Mostarda Dijon, ou das cascas de escargots que embrulhei nas meias para não quebrar, mandaram fechar, veio então o guarda que estava com meu passaporte e me diz: Its not good! Its not good!....pronto! Minha mente trabalhava como um liquidificador, pela velocidade e pela bagunça...acho que vou preso, perco o vôo, meu visto vence no dia posterior, me torno então ilegal, fico preso agora pela imigração e sou deportado pra penitenciária de Neves..ai que bagunça, eles podiam me dar um chute na bunda que me mandasse pro Brasil que eu estaria satisfeito..o guarda comunica algo pelo rádio e tiram as faixas e é anunciado no rádio que a bomba era um chiffon ou que estava liberado, mas pra correrem agora pois estava o check-in de toda ala B, inclusive todos os balcões da Lufthansa estavam atrasados em 40 minutos...e via a turba vindo, pensei no linchamento, e quando estavam bem perto e todos me olhando, inclusive 4 policiais, um cachorro e um astronauta, disse em alto e bom tom: “Pardon...monseiour e madames..desolée...J’ai suis desolée”...o primeiro casal sorriu para mim e respondeu “pás de probleme..c’est pás grave”...veio um japonês e tirou uma foto minha, me lembrei então de alguns flash enquanto abria as malas...talvez eu saia no jornal...o policial de bigode conversou com os demais, me aproximei e disse um “desolée” com a carinha do esquilinho da Era do Gelo no final, quando racha a ilha...ele me entregou o passaporte e disse ok... e se virou, nem falou pra mim um nunca mais volte nesse aeroporto, ou na Alemanha, ou na Europa, ou não atravesse o atlântico ou vai ver...ou não saia de seu bairro por uns tempos... ou coisa parecida. Peguei o carrinho e fui lá para fora, andar um pouco longe da multidão, quando então me lembro...a Querosene!...putz..tirei o laptop dela e passei para a mochila e a deixei dentro do banheiro com o adaptador de tomadas que comprei em Dublin,...pronto, aposto que daqui a pouco está o esquadrão, o astronauta, o cachorro no banheiro, eles passando o filme, e na minha sorte, no telão do aeroporto, me mostrando andando pro banheiro com a bolsa de exército, verde, e saindo sem...e tiro na bunda e multidão revoltada, guilhotina, desolée....tinha que correr lá, fui tentar descer com o carrinho, mas musei de idéia, não podia deixar o carrinho e correr lá, pois poderia acontecer tudo de novo e aposto como mandariam ao menos o Totó alemão me morder...rodei o aeroporto atrás de um elevador, mas o carrinho não entrou...paro por um instante e percebo que estou suando frio, dou mais uma volta e tento descer com o carrinho, mas é claro, minha mochila voou longe, como lançada por uma catapulta, e por pouco não acerta uma moça, que ainda foi gentil e a tirou do final da escada rolante, ou seria uma bagunça quando o carrinho chegasse e empilhasse e todas as pessoas atrás começassem a empilhar, me lembrei de Monty Pytton, desenho animado, Jerry Lewis...mas o carrinho passou, joguei a mochila em cima das malas, com a sensação que todo o aeroporto já me conhecia, e rumei para o banheiro, que demorei muito pra encontrar. Chegando, um carrinho branco na porta e um guarda entrando..pronto...de novo!...esperei do lado de fora..pensei em fugir dali e negar até debaixo d’agua que a bolsa fosse minha, talvez um sósia, ou um complô...sei lá..sai o guarda, mas escuto vozes, o banheiro tinha duas partes e era grande, na primeira as pias e espelho e os vasos de urinar, e passando por uma porta, uma bateria de casinhas com as privadas, havia usado a ultima, tento entrar com o carrinho mas a mala não deixa, pensei em largar o carrinho e correr mas lembrei de tudo que aconteceu no andar de cima...arrisco e entro rápido e vejo que tinha alguém dentro, volto correndo pro carrinho e espero. Sai um rapaz com uma mochila e um funcionário com uns sacos plásticos e os coloca no carrinho...entro novamente e a ultima casinha tava aberta, e percebo que a querosene não estava mais lá, e como na saída não estava a policia nem o cachorro, acho que passou batido, só tinha agora que jogar o blusão vermelho fora, e fui procurar uma lixeira grande, sem sucesso algum. Vou para fora do aeroporto, e nada, ando um pouco e o lanço em cima de uma bateria de lixeiras, pois são para plásticos, papéis, metais, resíduos e não tinha uma pra blusão vermelho..ficou por cima do recipiente para papeis...e voltei. Resolvi fazer o check-in. Fui para a fila e achando que todos os olhares eram para mim, mas já nem importava. O rapaz que me atendeu, foi muito sorridente e simpático e me diz que não precisava apresentar a mochila se era bagagem de mão, me lembrei da moça que disse o contrário e se a visse talvez a esgoelasse, a atendente parecia estar em experiência, com uma outra ao lado dando as instruções. Coloco a primeira mala e dá 33kg...a segunda, 34kg..não entendi, acho que foi a baba do cachorro...total na balança 67kg. Antes que me falassem algo, pergunto se as malas iriam direto para São Paulo ou se teria que pegá-las em Lisboa. Ela pede um instante e começam a conversar, apertam um monte de teclas e parece haver algum problema, talvez no peso ou talvez estivesse fichado no computador e me dissessem que teria de voltar a nado..pega o telefone e fala muito em alemão com alguém, fico esperando, desliga e tecla algo, me diz que estava tendo problemas em Lisboa...pronto, devo estar fichado lá também, pensei, liga novamente, aperta outra tecla e sai duas fitas, colocam nas malas e me dizem algo que não entendi, mas que as malas eu pegaria em São Paulo, e com a bagunça, nem falaram dos 3kg de excesso. Peguei a mochila e agora a sacola amarela com os livros e o laptop, mostrando como se fossem leves, mas estavam quase cortando meus dedos pelo peso. Resolvo ligar para o Tim e meu cartão da alemanha estava sem crédito, coloco uma moeda de 1 euro e cai na caixa postal e lá se vai um euro. Vontade de tomar uma pinga, pensei. Andei um pouco, e arrisquei novamente com outra moeda, e o Tim atende do outro lado, e pela voz, estava semi-bêbado...falo brevemente que tive alguns “probleminhas” e que nos encontraríamos na casa dele, ele já estava no trem, voltando para Frankfurt, ele responde, “sabia que teria problemas com o peso delas”..nem imagina. Uns 40 minutos estava chegando em sua casa, e após um abraço, peguei uma cerveja na geladeira e a virei quase de uma vez. O Tim tava bem alegre, disse que ia deitar, nos despedimos, falei por alto o que aconteceu, depois explico melhor, tava com preguiça de lembrar, tomei banho e fui me deitar...dormir...nada de novo, mas tava muito cansado e dava boas cochiladas, pois decidi não confiar no despertador do celular que levei e acordava toda hora..até as 4hs quando decido partir. E fora que quase peguei o metrô errado, foi tudo certo até chegar no check-in, a mochila pesava muito e a sacola quase decepava meus dedos. Os caras nada gentis, me mandam passar pelo raio-X, e me dizem que havia líquidos e que teria que comprar uma sacola plástica e os embalar, era um creme para cabelo, pasta de dente, desodorante, hipoglós..peguei tudo e joguei no lixo e me liberaram para entrar. Chego então a Lisboa, e se acham que acabou...quem dera!
O aeroporto de Lisboa é grande e bonito, tinha diferença de fuso horário de uma hora pelo que entendi no avião,e acertei o relógio. Estava com tempo de uma hora para apresentar, sigo até o painel e procuro o vôo para Guarulhos, 137 às 09:15...vejo que era no portão 02, mas o vôo marcava 139, e segui assim mesmo. Ajeito-me nos bancos do portão 02 e de repente escuto no alto falante algo que tinha o meu sobrenome, mas pensei, Braga aqui deve ser como Silva no Brasil..passa uns minutos e repete novamente, e então escuto perfeitamente: “Passageiro Adriano Braga, favor se apresentar ao portão 25 para embarque imediato, passageiro Adriano Braga”...putz, sou eu...mas tinha muito tempo, olho o relógio e o meu estava atrasado uma hora, e o portão 25 ficava muito longe, e saio correndo pelo aeroporto com a mochila e a sacola amarela cortando minha mão, como um desvairado, sem a mínima classe e avisto a moça, que me diz, “achamos o senhor heim?..mas o senhor vai ter que esperar o ônibus voltar pois já estão todos embarcados!”...chega o ônibus e eu sem entender nada, pois no horário do vôo para Guarulhos era outro, e o fuso?.estava era sem um parafuso na cabeça,e esse ônibus que não vai logo?...e demorou, e muito. Pelo relógio, o avião partiu fazia 20 minutos quando o motorista ligou o ônibus que nos conduzia a aeronave, quando pergunto ao senhor ao lado se estava indo para São Paulo, e responde: “Não, pra cidade do Porto!”..pergunto outro e outro e respondem a mesma coisa...vontade de ir no banheiro de novo...e tomar uma pinga!...além de ter perdido o vôo, acho que vou parar em outra cidade, ao menos estou livre das malas...pensei... um dia elas aparecem! Quando chego no avião é que descubro que não fui o único a atrasar o vôo para Porto, e que é de lá que sairia o vôo 137. Daí foi fácil, pois segui os passageiros e uma senhora portuguesa puxou conversa, e durante meia hora de fila de espera, trocamos algumas receitas. Muito simpática e só falava de comida, o que me deixou mais à vontade. Embarquei em um avião mais espaçoso e não estava cheio, mudei de lado por causa do sol e depois por não estar funcionando a tela que fica no banco, pois queria assistir filmes, quando a aeromoça me diz em tom nada educado: “Poderia se assentar?”..respondi, “Não...essa merda não funciona e vou procurar uma que funcione!”..e tirei bons quilos do ombro ao continuar conferindo qual controle remoto funcionava sabendo que a aeromoça estava com os braços na cintura me esperando assentar. Voltei para o outro lado do avião e me assentei em uma tv que funcionava, mas o fone estava um estragado...c’est lá merde!..quando passou um comissário, pedi outro fone, e esse, muito simpático atendeu...assisti Litlle Miss Sunshine..muito bom filme, e um pedaço do péssimo Maria Antonieta, que já havia assistido em Madrid, e assisti novamente L M Sunshine, pois havia perdido o inicio e acabei revendo todo o filme.
Durante o vôo, havia um Paranaense que não parava de falar, e alto, e com muitas pessoas. Vi na expressão de uma moça que estava doida pra ficar livre dele, quando mudou de lugar e ficou na fileira central ao meu lado, e quando tirou o sapato e colocou os pés ao meu lado..sem exagero, quase vomitei...acho que usava sardinha como palmilha...que horror...peguei minha coberta que ainda estava no saquinho e joguei sobre seus pés, acho que assustou e olhou para mim, que só levantei as sobrancelhas, ele deitou e foi dormir e o cheiro diminuiu.
....CONTINUA......

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Parte II - Lado B..e continua....


Querem me Beijar!

Por mais que o tempo e a lembrança avassalem a mente arrepiando o cabelo da nuca ao ver uma mulher bonita te fitando com um olhar guloso, nada é mais incomodo que os que estão ao derredor em pares que parecem ser organizados por uma combinação de beleza e ironia para te mostrar que estar sozinho em um bar é fora de questão, e de moda. Mas que se podem fazer quando é o único lugar onde se consegue acesso a internet para saber o resultado do clássico Atlético e Cruzeiro, onde, eu sendo do Galo até por uma questão de ser teimoso, pois torcer pelo Galo te faz como um sertanejo, um forte. São muitas raiva e esperança misturadas. Duro é o preço do “ingresso’, pois até o café custa 5 CHF, onde logicamente prefiro uma garrafa long neck de cerveja que é o mesmo valor e na minha relação custo beneficio pode valer próximo disso..mas um café, é demais. Aproveito para baixar os e-mails, onde é quase que só propaganda, aliás, devo estar cadastrado em alguma lista de hipocondríaco pois o que vem de oferta de remédios...Viagra então, deve vir oferta até de Oslo. Assento-me estrategicamente em uma mesinha alta e pequena, espremido entre uma máquina dessas de dar tiros em monstros, de Fliperama, e o espaço para jogarem sinuca. É que abaixo tem uma tomada, e como minha bateria é viciada na preguiça, funciona por pouco tempo, ligo o carregador, cuidando que minha perna disfarce um pouco o fio e a minha bolsa, e a velha bolsa verde exército, amarrada com um nó em uma das alças por arrebentar em pleno metrô em Madrid, marca Diesel, mas por ser comprada na Oiapoque, devia se chamar Querosene, mas que tem ajudado muito até aqui, cumpre de tampar a tomada. Não creio que o encarregado achasse ruim, mas eu é que não queria mostrar minha folga. A “Querosene” é a conta certa do Notebook , o pequeno mouse e o carregador, e com cuidado pois um dos bolsos já despencou até a metade, perdendo a costura. Essa não volta pra casa, mas se morresse, mereceria o céu das bolsas...uma sofredora. Internet é algo vicioso, ainda mais na minha situação, que se fico em casa, sozinho assistindo a tv em alemão é pior, e agora faz falta, pois se faz amizades, baixa textos e piadas e ainda bate-papo com outro desocupado de plantão. Estava então gastando tempo e 5 CHF com uma long neck quando inadvertidamente, percebo que assentada no balcão do bar, estava uma moça muito bonita me encarando. Olhei pra trás, pra ver se era pra mim mesmo que ela olhava, bom, só podia ser, ou para um dos monstrinhos que passava correndo pela maquina de tiros. De repente, depois de alguns minutos, ela vem caminhando em minha direção, e chega à borda de minha mesa, e então vira para a esquerda sem parar de me olhar e entra no banheiro. Arrepiei todo. Nem sabia que tinha tanto pêlo na nuca. Acontece que, nesse fracionado tempo de uns 15 passos, revi toda minha ignorância no inglês ou alemão para desenvolver um diálogo. Sou bom com as mãos e caretas e geralmente me faço entender, mas nessa situação, vi que o despreparo da língua não deixa você apto a usar a mesma para fins libidinosos. Ela saiu do banheiro e novamente chegou à borda de minha mesa, me fitou, e me garantiu que estava me fitando, e se voltou para o banco do balcão. Não disse nem uma palavra, pensei em gritar...”não sou gay...”, mas deixei pra lá. E minutos após me senti confortável pela minha escolha. Coisa doida e doída é a falta de um parceiro, isso quando se gosta de ter um. Tem gente que pode preferir um cachorro, uma samambaia ou um ramister..pior se for para atos imorais, coitado do ramister...mas eu gosto é de mulher. E essa, por ser loirinha de cabelo curto e meio despenteado, de boca carnuda, olhos azuis, seios fartos e bunda que não atrevi a conferir, não fica desaprovada na minha relação de exigência, já que geralmente fica resumida às vivas. Lembrei-me de minha ex-namorada e ex-esposa e quis compreender uma coisa...o que nos faz tão carentes ...ou galinhas? Porque damos certo ou errado? Quando via os casais nos diversos ambientes do bar, pensava no que poderia ter juntado duas pessoas a estarem ali, no prenuncio de serem um só. Achava que, bom, sendo eu um cara legal, bonito, charmoso, moderno e modesto...basta arrumar uma mulher inteligente...êpa...como sou visto do outro lado?.Sujeito inconstante, esquisito, claudicante, baixinho, deve ser cruzeirense ou gay, geralmente os dois, e esse cabelo?...É difícil, pois gostar e ser gostado e isso perdurar não é matemática, não é uma equação, está mais pra equitação, e com um cavalo bravo e manco e você tem que estar ali, em cima...ou embaixo conforme o momento. Continuei conversando pelo msn com uma amiga que nem conheço, mas solidão faz disso, e por isso é um sucesso, por isso solidão gera riquesas...pessoas são cada vez mais sozinhas em seus chats, msn, novelas ... Se no Brasil proibissem as novelas, as pessoas sairiam de suas casas, conheceriam outras pessoas, se exercitariam, iriam gastar dinheiro no comércio, ou simplesmente caminhar com seu parceiro e não teriam suas vidas sentimentais ditadas por outros...e que outros...e aí vai...Se despedem com bjs e alguma carinha acenando e vai sem briga pra cama...mas tem que fazer falta...é o correto eu penso...não de umas letras ou imagens que aparecem...”...Toco, logo existe...”, pois relacionamento é empírico, tem que ter cheiro, suor e lágrimas. No final da noite, ao me retirar do bar, virei e ela ainda me olhava pela vidraça, eu a -8 graus por dentro e por fora. Pude escolher o nada. Me virei, e só não saí triunfante graças ao escorregão no gelo que me fez criar uma coreografia semelhante a alguma ave em rito de acasalamento..ri demais, e ela também deveria estar, mas não conferi por vaidade.

Na outra noite, na mesma mesinha, encosta três alemães, um casal de namorados e outro rapaz, e colocam suas cervejas junto a minha para darem tiros nos bichinhos. A moça vem ver o que estou fazendo e começamos a comunicar. O namorado falava bom francês, e disse que morava em Colônia, disse que conheci e ainda mostrei as fotos. O outro se aproximou e passamos um bom tempo conversando, eles acharam legais as fotos e a quantidade de cidades que já conheci nessas minhas férias...e não é que ..inadvertidamente, o cara tira a blusa, estava com uma camisa de futebol francesa, e me entrega, tira outra da bolsa e veste. Disse que era um presente para mim!...Dá pra acreditar?...Devo estar cheiroso...e dizem que os europeus são frios. A garota digitou um endereço no micro, caiu em uma danceteria e tinha fotos dela, ela me beijou e os dois se despediram e se foram...

Hoje pela manhã, fui comprar minha passagem para Frankfurt, e ao seguir o leito do riacho rumo a estação, escuto meu nome sendo gritado com um sotaque Italiano, era a...Bertha..acho que é esse seu nome, uma linda mulher, esposa do médico-chefe de Davos, puxando pelo trenó sua filha, uma dos três filhos que tem, acenou e apressou o passo em minha direção e me deu três beijos com um largo sorriso, me perguntou em Franco-Italiano se eu já estava esquiando, respondi que no Nórdico estava bem, mas no Alpes estava mais pro ano que vem, ao responder que partiria em dois dias mostrou um sincero pesar, me abraçou e despediu. Saindo da estação, vou ao supermercado comprar mais chocolates para minha filha, e escuto meu nome novamente, era uma amiga da Neide, que conheci no dia em que cheguei, na companhia de seu filho adolescente e foi o mesmo tratamento e perguntou se precisar de algo é só ligar, pois tinha seu numero de telefone, pois ficaria só por uns dias e a Neide maternal disse para ligar para sua amiga caso precisasse. Também manifestou pesar por já estar indo. Volto pra casa e pego o esqui e vou para o lado de Davos Dorf, e no meio da neve, passa um instrutor, pois eles possuem o mesmo uniforme, na companhia de alguns alunos, e então escuto um “Tchau Adriano”, era um amigo do Urban, que conheci no bar no dia da apresentação dos instrutores, por sinal, muito legal. Aliás, me assentei na mesa dos professores, ganhei cerveja de graça como eles e ainda conversei em francês com um dos instrutores e em espanhol (eu acho) com três argentinos que estavam ao lado. Ele parou ao meu lado e cumprimentou melhor, fiquei espantado, pois devo ser exótico ou esquisito, pois de touca, óculos escuros, e estava na trilha, o que me faz como todos aqui, pois fora da trilha...há,há..devia ter filmado minhas primeiras performances de esqui, fora das trilhas, tentando esquiar como se fossem patins. Tinha a graça do Mazzaropi e discreto como o Jerry Lewis...era muito engraçado, parecia que tinha graxa na neve, eu ficava mais ligeiro que barata em galinheiro, só não saía do lugar, só faltava subir poeira na neve, o lugar ficava até liso...era muito engraçado, parecia um avestruz epiléptico....mas voltando...gostei de tudo isso e esses foram bons beijos que recebi. O Urban me deu uma touca de presente, disse que talvez ganhasse uma calça hoje...ele tem um humor legal. Ontem fiz um almoço legal pois tinha filés de avestruz, o fiz com um molho de vinho tinto, mostarda e figos em conserva de grappa, acompanhado de risoto de limão siciliano e pêras e abobrinhas recheadas com aliche e purê de batatas com a polpa da abobrinha e mostarda...ficou muito legal, o Urban só faltou lamber as panelas. A verdade é que estou indo embora e estou com um frio na barriga. Busquei um paraíso e encontrei amigos, encontrei calor. Encontrei olhares de carinho, seja com alguém ou com ninguém me senti bem-vindo e bem querido. Recebi um e-mail do Tim, de Frankfurt, dizendo que achava um absurdo eu querer dormir no aeroporto e que o sofá da sala estava à disposição a qualquer momento. Me refrescou por dentro. São todos diferentes e somos todos diferentes, passei muito tempo sozinho, mas não o tanto que deveria, e recebi muito carinho, mais do achava merecedor...e agora, com a passagem na mão, fico assim, ansioso por ter de voltar, mas a ninguém tributo a minha volta, acho que à mim mesmo, pois serei o mesmo que deixei ou o que volta meio que com pena dos choros ou vaidade dos risos, com riqueza nos olhos e nas lembranças que me levaram a tantos passos e se sentindo ainda menor, com muito pra contar mas com vontade de só escutar, vejo a vida em minha frente, mas vejo na minha frente o meu passado, pois o tempo tem me feito pensar no estar perdido ou achado, já que isso depende de como nos beijam e porque nos beijam... Mas isso fica pra próxima...obrigado pela paciência...e um abraço a todos!

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Adriano na Europa..6 meses...


Essa é a parte II – o retorno – Fundos... do
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Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
Fernando Pessoa

Bom..estou no segundo capítulo desses tempos onde, na Europa tenho vivido, um dia após o outro. Muitas são as surpresas, muitas as alegrias e a felicidade de realizar sonhos que achava serem só sonhos...mas que junto à minha pequena alma, se tornaram realidades, fazendo tudo e todos os dias e noites valerem a pena...
Para você que embarca agora, farei um breve resumo...pois essa é a continuação do

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Minha história começou quando terminei meu curso de Gastronomia na Estácio de Sá, e seguindo uma pessoa muito querida, fui cumprir 6 meses de estágio na França, na belíssima cidade de La Rochelle...bom mas não cumpri todo esse tempo, pois mesmo sendo o restaurante muito bom e de cardápio rico e elaborado, percebi uma certa mesmice e muito queria aproveitar e aprender das gastronomias das terras velhas da Europa. Conheci muito das comidas, bebidas e pessoas daquele maravilhoso país. Conheci cidades e castelos que se citar todos de cor...La Rochelle, Besançon, Bordeaux, Beaune, Chagny, Chantilly, Chalon-Sur-Saone, Chatelleraut, Chenonceaux, Conhaq, Dijon, Fontenay, L’Ile de Ré, Montbart, Niort, Roquefort, Paris, Poitier, Saint Maixent, San Pirre deux Corps, Orry-la-Ville, Santes, Semur en Auxois, Tours, Versailles, Poitier...andei bastante. Trabalhei bastante, mas tinha 2 dias por semana para passear e aproveitava cada momento. Foram lugares e situações que escancararam meu coração, abrindo as janelas de minha alma, me trazendo para muito perto de mim mesmo, pois quase sempre sozinho. Fui para a região da Borgonha, do outro lado da França, e muito aprendi por ali, principalmente dos vinhos, os melhores do mundo, e participei de duas grandes feiras e experimentei dos melhores vinhos feitos no planeta, conheci a faculdade de vinhos, vinhedos, viticultores, e muitos e muitos vinhos, queijos, Foie Grás, patês de campagne...foi muito bom. De lá, parti para a Itália, Milão, Veneza, florença e módena, e depois, Roma...subi então para a Suíça...para Belinzona, Zurick e Davos Platz. Volto então para Beaune e juntamente com a Nina, parto para Alemanha. Fico em Frankfurt, e ainda conheço Colônia, Gross-Gerau, Heidelberg, Wiesbaden e Darmstadt. Muito comi, bebi e me diverti na companhia de pessoas maravilhosas, passei ali o Natal e o Reveillon. Parto então para Valência, na Espanha, e de lá para Madrid, ainda conhecendo Segóvia e outra pequena cidade, mas em Madrid, trabalhei no restaurante de um brasileiro e ainda muito pude, alem de cozinhar, comer e aprender sobre a gastronomia espanhola. Parto de lá para Dublin, na Irlanda, e ainda tenho a chance de conhecer uma cidadezinha a beira mar muito linda e tomar cerveja local em bares famosos, com musica céltica ao fundo. De lá vou para Berlin, e em 4 dias de passeio pude contemplar muita riqueza, então vou para Basiléia, na Suíça..e agora estou em Davos, onde começo tudo de novo...

Estou agora em um trem, saindo de Basel (Basiléia) rumo a Zurick, e escreverei apenas a introdução, pois a vista lá fora é imperdível e continuarei em Davos..bem...foram dias muito interessantes, já que no hostel onde estava, em Berlim, havia muitos grupos de brasileiros, todos jovens passeando pela Europa. Como não saía a noite, devido ao frio e a neve, ficava no bar, escutando musica e ouvindo a distancia os casos da garotada, os risos, piadas e brincadeiras. Andava durante todo o dia, e muito. Fui aos monumentos, parques, ao Muro, aos museus, mas a noite, ao Kebab’s da esquina, passava no supermercado e comprava uma garrafa de vinho, e ia para o bar do hostel, onde comprava uma taça e as outras eram da minha garrafa, e ali ficava até dar sono. Não vi ninguém que estivesse sozinho, havia muitos bandos e duplas, mas isso nem me incomodava. Não nego que às vezes me permitia à melancolia e tristeza, é como se me dirigisse a um buraco fundo, mas enquanto não jogam terra, é porque estou vivo, e aconteceu algo no meu primeiro dia que foi assustador. Dei entrada bem cedo, pois o vôo partiu de Dublin às 06:05 da manhã, o que acho até proveitoso, já que durmo, ou melhor, me encosto em algum canto do aeroporto e economizo uma diária, e logo após deixar minha mochila e um bom banho, peguei a câmera e fui andar com o mapa que o rapaz da recepção me forneceu. Eu estava na Rose-Luxemburg Platz, na parte oriental da cidade e próxima aos monumentos mais interessantes. Andei muito até que começou a escurecer e a nevar. Lembrava que estava próximo à torre de tv, que por ser muito alta, se avista de longe...bom, mas ela é igual de qualquer lado, e não sabia ao certo a posição, e com a neve caindo mais forte, sumiu completamente. Resolvi pedir informações, pois estava cansado demais, mas então percebi que havia deixado o papel com o endereço do Hostel na mochila, e o pior, não lembrava o nome dele e nem o nome da rua. O rapaz da recepção me mostrou no mapa onde estava o albergue, mas já não conseguia enxergar nada de tão cansado e não estava com os óculos...e o pior, nas tentativas de ver o mapa com algum esforço e caretas, caia neve e borrou o lugar aproximado onde o rapaz marcou de caneta...comecei a ficar preocupado. Estava muito cansado..avistei uma policial e a perguntei em francês e inglês..ela olhou o borrão no mapa e apontou a direção aproximada...mas achei estranho..não sou pombo correio, mas não sou tão tonto...ela apontava para mais distante de onde poderia estar a torre...andei um pouco, sem confiar muito, até que avistei um táxi parado, e perguntei ao motorista, que me indicou a direção contrária à mostrada pela policial, e prossegui, até avistar a torre bem próxima. Nesse tempo reconheci algumas vitrines e detalhes de casas, sabendo que passei por ali... mas as ruas não são quarteirões, são muitas bifurcações, becos e pontes, devido aos trens, bondes e estações de metrôs...até que cheguei à estaca-zero, pois me deparei com um imenso muro e nada e ninguém por perto..e estava muito frio..uns -4 graus...a neve caia mais branda, mas em compensação minha barriga avisava que estava ocada..andava sem parar, até que em uma pequena loja escutei alguém falar em português..e de cara disse que precisava de ajuda, pois estava em um albergue que tem nome de santo, achava que era o Benedito, mas acho que ele não faria sucesso aqui...não lembrava o endereço, só de uma estação próxima..a Rosa-Luxemburgo..a moça, com sotaque de baiana, uma escurinha muito simpática e falante, perguntou para todos os 3 clientes que estavam no café, esse era o comércio, e um me explicou em alemão...ela rapidamente xingou o sujeito, dizendo que era para explicar para ela que traduziria..ela era arretada mesmo...lembra uma atriz que também cantava, morena de cabelo anelado e de traços fortes de gente do norte, tinha as narinas bem abertas e nariz largo...esqueci o nome..e então me disse para virar a primeira à esquerda e a segunda a direita, e deveria pegar a direita da bifurcação...e se eu me perdesse era para voltar, que ela me levaria..achei um alivio a baiana...fiz como me indicou e então me familiarizo com a avenida e logo estava na porta do hotel...onde passei direto pro Kebab’s e supermercado me munir de um vinho, pois a noite tava fria e eram apenas oito da noite. Tomei outro banho e fui para baixo, onde fiquei organizando as fotos no computador e ainda consegui acesso à internet. Tomei toda a garrafa de vinho, um tempranillo espanhol muito honesto, com leve passagem pregressa, mas que não foi condenado, um vinho alegre e ansioso para sair da garrafa, leve tendência a melancolia mas que cumpria o papel de ser vinho barato...e ao chegar no quarto, fui me deitar e desmaiar. Acordei as 9 da manhã e muito renovado, o tempo estava legal, apesar do frio, e fui percorrer outros lugares e museus. Passei no café onde trabalhava a brasileira e a agradeci muito pela presteza..ela estava ocupada pois haviam muitos clientes, mas me deu um café de presente e me colocou para conversar com uma senhora alemã que organizava um grupo de capoeiristas, uma espécie de escola, que falava excelente espanhol e nos comunicamos sem problemas. Os alemães são muito simpáticos. No mais, toquei meus dias de turista até ir para o aeroporto na terceira noite, e dormi lá como contei no início. Voei de Berlim a Basiléia, e de lá, peguei um trem para Zurick, onde peguei outro para uma linda cidade à beira de um grande lago, cercada pelos alpes brancos pela neve, Landquart, onde finalmente peguei o trem alpino para Davos Platz.
Confesso que estava animado e apreensivo...pois minha estada na europa ainda me reserva muitas surpresas e emoções diversas, já que não suporto ser pesado à alguém, não gosto da sensação de poder estar incomodando..me senti assim algumas vezes nesses 6 meses, mas Davos tinha uma estória que precisava consertar. Estive por lá, quando ainda estava morando em Beaune, sem destino certo, pois na verdade, tinha partido de Beaune para Dijon, de lá para Milão, então para Veneza, em seguida para Florença, Módena, então pego um trem para o sul da Suíça, achando que poderia chegar a Davos de trem, mas os alpes são complicados, me disseram que teria que ir até zurick e então descer para a parte sudeste da Suíça, ou ir por estradas..o que fiz, de ônibus, e até em escolar peguei carona, dormi em uma estação, e respondendo ao Roger..estava -9 graus sim, mas “dormi” no quartinho de espera dos trens, que tinha um micro aquecedor, mas que deu para passar a noite sem problemas, pois pagar 140 euros para dormir no hotel em frente...não sou tão louco. Fiquei pasmo, maravilhado mesmo com a paisagem, com os alpes, as casas, a neve abundante, as vilas pequenas, que entrei em umas 10 no escolar, que entrava para pegar as crianças e as deixava em uma vila maior, para irem a escola. E que diferença do Brasil, se via crianças sozinhas na estrada esperando o ônibus, aliás, quase todas estavam desacompanhadas de um adulto, com um colete cintilante para serem vistos apesar do tamanho, alguns de 4 ou 5 anos. Aliás..aqui é outro mundo. É impossível não comparar e não sentir constrangido por não podermos fazer parte disso...do equilíbrio, do respeito à natureza, às pessoas, aqui são mais iguais...As pessoas deixam as coisas, como esqui, roupas, bolsas, nas portas de lojas, embaixo de arvores para esquiarem, e ninguém mexe em nada, não existe crimes aqui...onde Angelie Jolie estava fazendo compras no supermercado sem segurança, maquiagem, como uma pessoa comum....voltando...fiquei apenas dois dias aqui e tive de voltar, pois recebi um telefonema que me deixou a Europa com novo sabor...e não foi nada bom...queria muito voltar, mas meus recursos são limitados agora, e ainda recebi um e-mail de meu amigo Urban confirmando o convite....e aqui estou...no lugar mais lindo do mundo..o hit da Europa, onde os milionários vinham se tratar de tuberculose, onde os famosos ficam anônimos pois aqui é tudo muito diferente. As pessoas te cumprimentam o tempo todo, enquanto nas trilhas e caminhos...calma, calma, ainda não disse..estou esquiando, graças ao Urban. Me forneceu a roupa adequada e o equipamento, e ainda uma breve aula, enquanto a Neide se divertia assistindo de um banco e Pio e Kevin fotografavam...aliás, gente, essa é a Família...Super...os garotos são animados e amáveis, a presteza e cuidado do Urban e o carinho e amor da Neide me trouxeram grande alívio nesse final de jornada. Provavelmente não terei coragem de ficar aqui até minha volta, mas confesso que estou muito feliz. Ter me tornado amigo deles foi uma verdadeira benção...o Urban trabalha muito, no cassino e dando aulas de esqui, e sempre amável, sempre presente e prestativo. Estava muito cansado no dia da chegada, e assim mesmo, quis fazer o jantar, onde fiz um risoto negro de camarões e abobrinha com camarões ao vinho e salada ao molho de azeite, aceto balsâmico e ervas secas...ficou legal e eles gostaram e agradeceram...faz pouco que o telefone tocou, atendi e era o Urban, e conversei com toda a família, um após o outro...demais..estou muito bem nesse momento...escutando Diana Pequeno e tomando um vinho do Urban, que ele nem sabe, mas pagarei outro no Brasil, já que é o chileno Leon de Tarapacá Merlot 2005, um vinho que sempre tomo em casa. Tinha um branco na geladeira, mas fiquei receoso de ser um vinho muito caro, pois são pessoas de bom gosto. Fui ao supermercado comprar uma garrafa, mas já tinha fechado...decidi que vou emagrecer um pouco e evitei a cerveja que está na geladeira. Aproveitarei da canseira que é esquiar e vou aproveitar das gastas calorias para voltar uns quilos na balança. Estou com o esqui nórdico, ele é mais fino, e se caminha e se desliza... já estou com a bunda doendo dos tombos..mas é divertido também...as pessoas passam sempre sorrindo, digo c’est mon premier jour deux esquis..lés tombée...respondem que estou indo muito bem...esse lugar é demais....ontem, fomos a tarde deslizar de ..esqueci o nome..uns trenós de madeira, e foi ótimo os tombos...pena não ter curtido mais a família Meier...são...super. Estou sozinho no apartamento deles por uns dias, pois foram para Chur...onde mora o pai do Urban, ficarão lá uns dias e então para Zurick onde Neide volta com Pio e Kevin para o Brasil, dia 13 eu creio. Enquanto fui ao supermercado, passei por um Cyber-café...mas é 4 euros 20 minutos...prefiro em vinhos...
A despedida da familia Meyer foi muito legal, e a Neide me disse que minhas experiências são inspiradoras e seus filhos dizem que sou louco e sortudo...e o que vejo é que nessa roda do tempo, estou vivendo, girando um dia após o outro, conhecendo degustando, desejando, observando...a vida destrancou a sua porta para mim em muitos momentos e é meu tempo nesse mundo, com a graça de Deus, vou crescendo debaixo do sol. Nem tudo foi alegria, mas agora está mais com certeza...me tornei leve para o vento, que tem entrado ora por portas, ora por janelas, e me permiti ser lançado para tantos lugares, fazendo amizades, emoções, dei gargalhadas e prantos, sim, as portas e janelas do tempo sopraram vento em minha alegria e tristeza, e muito pude chorar, muito lavei meu coração...e ainda não cheguei..ainda estou aqui...
Bom pessoal, é isso, bem vindo ao novo blog e obrigado pela paciência novamente.
Não sei o que fiz de errado mas não apareceu lugar de mensagens. O email é:
adrius@globo.com

Abraços